segunda-feira, 24 de outubro de 2011

formigas

Antes de recorrer aos sonhos, gostaria de dizer que estou triste devido à dura vida das formigas. O dia todo trabalhando sem ao menos um tempinho pra descansar as costas magras, fumar um cigarro de sei lá o que, ficar pensando em loteria como qualquer um. Compara-se o seu pouco talento com o da cigarra, a artista. Essa sim sabe o que é bom da vida e leva consigo o espírito exemplar de fanfarrona. Não liga para as cantigas bestas cantadas nas escolas e continua sua música, a esperta, como se estivesse em um momento perene de gozo. Observando essas tolinhas formigas que povoam o quintal da casa grande, e que agora vão andando como se seguissem um caminho insólito, condenadas pela natureza ao exercício contínuo da fila, presas na sua condição de inseto e nas limitações do seu único dia de vida, sinto vontade de gritar-lhes aos ouvidos: “Levanta-te”. A cigarra tentou, eu sei, mas não deu conta. Também, chegou folgada, cantarolante, altiva, deixando escorrer pelas laringes suas certezas ausentadas do tempo e do espaço, achando que formiga é bicho fácil. Pois não é, e digo mais: a formiga é a personificação do homem que trabalha, e fica quieto no seu canto, descansando, sem ter tempo pra sonhar. O que me alegra é ter a certeza de que, da mesma forma que caminham à labuta, juntinhas, homogêneas, rebelar-se-ão contra um sentido que lhes empoeirou as idéias, como em uma insurreição popular.

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