domingo, 8 de janeiro de 2012

Palavra

A palavra é a síntese de idéias convergidas em apenas um ponto. Carregam em meio às letras um sentido único e amplo, podendo ser utilizada em várias ocasiões. “Papel”, dependendo dos diversos casos, pode se referir a uma folha, dentro da qual cabem várias e várias palavras. Ou pode ser aquilo que é representado por um ator, que se utiliza delas, das palavras, para expressar o que quis dizer o teatrólogo e dar-lhe a fama que merece. Ou pode ser o que representa o dever amargo de um governo, como mostra a frase: Qual é o papel do governo xis perante a crise econômica mundial? Delas também se utilizam os doutos, para falarem de si mesmos. Sozinha, ela não é nada. Apenas um conjunto de letrinhas inúteis que resolveram se juntar por pura conveniência sonora. Mas juntas, formam a frase que, por sua vez, formam o texto que, também por sua vez, formam idéias modificadoras de ventos. Somos palavras de uma mesma História, emaranhadas num todo incoerente e fosco.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cidadão

O “cidadão” é aquele indivíduo desprovido de origem social. É neutro, na medida em que nos discursos que a ele se referem é colocado como sendo o ser humano puro, na sua relação ambígua com a natureza e na sua incapacidade de fazer-se diferente dentro de um grupo social qualquer. É o todo e, ao mesmo tempo, é apenas um: ele mesmo. Creio, porém, que essa definição é apenas parte de um grande roteiro cujo filme se mostra, aos olhos e prazeres do mundo, um verdadeiro conto de fadas. É prosa feita às escondidas, moldada ao corpo de princesas e príncipes e edificada num final feliz.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Aos chinas, um novo dia

Para quem se viciou em falar da China como um país sem tradição de luta, engana-se tanto quanto o rato à confiar em cobra. O país que, hoje, mais cresce no mundo, é forçado a mostrar o calcanhar de aquiles do neoliberalismo: os explorados mais oprimidos do mundo no início de uma revolta.
E não é só isso. Apesar de os chinas não poderem respirar sem pedir permissão às mais ou menos cômicas sombras maoístas, penteadas com o sangue rude dos seus compatriotas, utilizam-se de uma ferramenta muito conhecida entre os lutadores e repressores espalhados pelo mundo (inclusive, muito bem conhecida pelo próprio Partido Comunista Chinês): a internet.
Gostaria de fazer uma pergunta aos inventores dessa tão utilizada ferramenta, para tantas coisas. Mas confesso que essa minha pergunta não é para suprir uma curiosidade que se desfaz numa resposta óbvia, mas uma forma de dar sentido ao desenvolvimento dessa minha pobre e pretensiosa fala.
Quando pensou em dar ao mundo o conhecimento de si próprio, pensou que esse mesmo mundo sentiria a necessidade de mudar-se?
Como já disse, é apenas uma pergunta feita para dar corpo à minha retórica. Mas se for verdadeiro, gostaria de agradecer-lhe o favor que fez ao povo. És o Jesus Cristo em falsa pele, tão esperado pelos mais variados cristãos e suas crenças. Mas se a resposta é não, infelizmente tenho que lhe mostrar a cara fria e densa da minha sinceridade: és o burro dos burros, a ovelha desgarrada e feia do seu asqueroso e porco rebanho de exploradores.
Tenho certeza de que as desculpas serão muitas, mas o resultado de todo esse alvoroço social, político e econômico está tão nítido como a imagem de um espelho velho refletindo o começo de um novo dia.
            Quanto aos chinas, prefiro não dizer mais nada e deixar que escrevam, com suas pequenas mãos de fogo, a sua própria História.