quarta-feira, 21 de março de 2012

Vento

Comecei o dia enfezando o vento. Fui falando um monte de bobagens, chamando-o de bobo, pau-mandado das nuvens, manso e tolo revisionista que se finge no invisível. Até peguei o ventilador, no quarto, e liguei bem na sua frente, contra o seu movimento, pra fazer oposição. Fui fazendo fusquinha e até mostrei o dedo. Ele me disse, depois de muito tempo, que por mais que eu tentasse, ele não ia ficar bravo, pois tinha o apoio dos passarinhos, das árvores e até mesmo dos cachorros e gatos. Falou que não queria perder a tranqüilidade, que estava bom assim, pois era domingo, dia de descanso. Depois disso, perguntei: Se os passarinhos lhe apóiam, por que é que eu não estou vendo nenhum agora? Ele ficou quieto, num silêncio absoluto de vento, e continuou tranqüilo, aparentemente. Mais tarde, quando eu quase já não tinha forças, me veio um pombo na janela, meio triste, e depois foi embora, como se quisesse dizer algo e não pudesse, por pressões maiores. E o vento começou a bradar como se fosse perder o seu posto de vento, tão forte, que me arrancou grande parte do telhado feito de barro, e de esperança.

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