domingo, 1 de abril de 2012

Sonho


Despertei de um sonho em que as pessoas eram bichos, iam e vinham, como bichos que andam, que falam, que sentem. Apertavam as mãos quando conheciam um ao outro e também compravam coisas. Haviam tartarugas sentadas em seus banquinhos de pedra batida, jogando baralho e conversando sobre as perdas que nos batem à porta em dias de terça, e depois vão embora, deixando um tanto considerável de si, em forma de lembranças. Vi um coletivo de pombas fazendo graçinhas e levando uma bela bronca da coruja, a professora. O macaco, com sua voz tacanha, acenando a todos com suas edições de “o diário dos bichos”, gritava alto, fazendo propaganda. Dei de ombros e saí, sem dizer palavra. E fui andando pela rua triste, deixando que o corpo seguisse a tristeza que escorria pelas sarjetas, como uma lama vermelho-amarronzada, meio de barro, meio de sangue. Quando dobrei a esquina, me veio um abutre. Olhei-o por alguns minutos e percebi que sua face carregava certo aspecto pueril. Me pediu um cigarro e, ao ver que ele tinha um leve sotaque do sul, tive a impressão de que aquele abutre bonachão era o meu pai, escondido nos meus sonhos só para fazer mistério, para dizer poucas e boas. E me disse algo do qual eu não me recordo ao certo, talvez por causa do susto ao ter acordado de supetão. Levantei da cama e fui até a janela do prédio de onde vi um homem, que estava sentado na porta de uma loja. A noite estava fria e o vento foi entrando no meu quarto como quem procura algo, encontrando apenas sonhos, bobos e sem importância, pregados na parede.

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