terça-feira, 17 de abril de 2012

Uma vontade

Quero acordar bem cedo e ver no dia o sorriso decente de uma criança tímida, esparramar as vasilhas pela sala, fazer quinhentos gramas de café e dizer ao nada que a vida é bela, como se o dito fosse uma constante nota de sarcasmo. Quero encobrir a mesa com um pano verde antes mesmo de saber o dia de hoje – uma segunda feira talvez? – e pedir a Deus para que esse mesmo dia passe logo, em silêncio, como quem sai pela porta dos fundos. Quero viver eternamente no final do expediente, em que o cansaço toma conta de todos os sentidos. Quero compreender o mundo com beleza. Não essa beleza que nos vem de fora, mas uma beleza concreta de um velho ranzinza, que chora, ao se afastar de todas as surpresas. Chegar à conclusão de que tudo a minha volta não passa de versos repetidos de um poema triste, mas sincero. Quero, enfim, rasgar a pele morta que me entoa os olhos, e fazer dela roupa fina.

Um comentário:

  1. foi uma ótima a publicação da tua página pela andreia. a gente se dá conta de que se esquece de coisas boas.

    ResponderExcluir