segunda-feira, 4 de julho de 2011

Telefone chiado, ligação perdida

Enquanto seus pais conversavam na sala, o menino correu por toda a casa, empolgado, e chegou ofegante para o irmão, deitado no quarto dos fundos.
– Eu não sei o que dizer, Edivaldo, não sei o que dizer.
– Diga o seu nome e que pegou o telefone com uma amiga dela.
– Não, Edivaldo, eu não consigo. O telefone está chamando e não sei o que vou falar primeiro. Eu não deveria ter ligado.
De susto, chega o pai que, mais irritado do que curioso, pergunta:
– O que é essa barulheira toda?
– Nada, pai, não é nada – diz Edivaldo.
– Não quero barulho, estou tentando conversar com a sua mãe. Tentem nos dar um pouco de sossego.
– Vai, pai, não é nada.
Bravo, o pai se afasta dos conversadores, colocando alívio no peito magro do menino, que resolveu tentar de novo a ligação.
Do outro lado da linha, uma voz feminina e pré-adolescente.
– Alô.
– Alô, peguei seu telefone com uma amiga sua, meu nome é Eduardo.
– Quê?
– Meu nome... Eduardo... Peguei seu telefone com a Mônica.                                
O telefone, já velho, chiava, e o menino, sem saber o que fazer, desligou-o.
– Caiu a ligação.
Com olhos desconfiados, o irmão mais velho o encarava. Fazia aquilo não porque desconfiava realmente – sabia que era mentira! – mas para penetrá-lo no fundo de sua culpa. Olhou-o dos pés à cabeça, analisando-o, e mostrando indignação perante a sua covardia. Já o menino, ao cair em si, pegou o telefone novamente, discou o número e esperou, sério, a mesma voz pré-adolescente – que não mais apareceu.

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