quarta-feira, 2 de novembro de 2011

As árvores e seus diálogos

Quando eu era pequeno, meu pai me levava a um bosque que ficava perto da cidade onde passei a meninice, para mostrar-me as árvores e seus diálogos. Ele dizia que elas conversavam entre si, às vezes até brigavam, mas sempre deixavam de lado as diferenças. Lembro-me que as vozes se encontravam de forma sincronizada e fácil, sem segredos nem contradições, como a definir conceitos. Eu, vestido de inocência, arregalando os olhos para o imaginário de um mundo criado às pressas, entrava em meio à conversa e dialogava, argumentando, elevando a voz para a inexplicável postura que assumiam perante a minha pouca argumentação. Mas elas eram mais espertas, mais vividas. Com a voz fina, sempre diziam coisas que me distorciam a face, e me faziam repensar o mundo, colocá-lo do avesso. Quando eu era pequeno, havia um mundo que me foi tirado, sem nenhum consentimento de minha parte, fazendo com que aquele menino quieto, arredio e feio, virasse homem, casto no que tange às falas, embora próspero na eterna prática de canalizar a raiva em manifesto, que desliza em brisa leve e vai seguindo pelos tempos - recuando em passos breves, por pura precaução - até chegar à liberdade e depois ultrapassá-la, tirando-a do reduto discursivo das ideias.

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