domingo, 27 de novembro de 2011

Frases e versos

“O homem não passa de uma linha quase reta que se desvia das pedras colocadas no caminho”, foi o que me disse Sebastião Pereira, duas semanas antes de morrer ao pé da velha mangueira. Essas palavras me vieram hoje de manhã como num sonho que tarda e que fazem perder boa parte do dia. E assim foi. Um domingo quase todo, perdido na tentativa de desvendar os mistérios enrolados nas entrelinhas da frase, o que me fez perder também o jogo final do campeonato, e que relato agora em prosa pouca, no sentido de socializar a perda. As pedras, provavelmente, seriam os obstáculos colocados para atrapalhar a nossa boa existência, para fazê-la triste, e dar mais intensidade à alegria que nos vem apenas no final. Ou podem ser as ideologias, essas pregadoras e levianas, que nos tiram os ensinamentos da casa e nos levam ao mundo, pregando em letras densas as suas verdades, que se chocam e se batem, exigindo nosso posicionamento. Podem também ser os amores, tristes na sua ausência e tristes também na sua presença fria e descontrolada, levando-nos aos mais absurdos buracos da loucura e tirando-nos os dias tranquilos de relva. “O homem não passa de uma linha quase reta que se desvia das pedras colocadas no caminho”, disse Sebastião Pereira, repetindo mais ou menos o que disse o poeta, sem conhecer a semântica simples daquelas palavras bonitas, escritas em versos, e colocadas na prosa irônica da eternidade, sem pedras, dificuldades, ideologias e nem amores, apenas versos.

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